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segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O PERDÃO NÃO PROCEDE DA CONTRIÇÃO HUMANA, MAS DA MISERICÓRDIA DIVINA

Pois se dizem que os estou acusando falsamente, então que se adiantem e exibam alguém, um só indivíduo que seja, que, através de doutrina de contrição desta natureza, não fosse levado ao desespero, ou não interpusesse ao juízo de Deus a aparência de compunção em vez da compunção verdadeira. Também já dissemos em certo lugar que a remissão de pecados nunca lhes sobrevem sem o arrependimento, porquanto ninguém, senão os aflitos e feridos pela consciência de seus pecados, pode implorar sinceramente a misericórdia de Deus. Contudo, ao mesmo tempo acrescentamos que o arrependimento não é a causa da remissão dos pecados. Portanto, já eliminamos esses tormentos das almas, a saber, que a remissão de pecados deve ser devidamente consumada. Já ensinamos que o pecador não deve olhar para sua própria compunção, nem para suas próprias lágrimas, mas que fixe ambos os olhos tão-somente na misericórdia do Senhor. Tão-somente lembramos que são convocados por Cristo “os cansados e sobrecarregados” [Mt 11.28], quando foi “enviado a proclamar o evangelho aos pobres, a curar os quebrantados de coração, a pregar remissão aos cativos e a libertar os encarcerados, a consolar os que pranteiam” [Is 61.1, 2; Lc 4.18]. Pelo que, não só os fariseus seriam excluídos, os quais, fartos de sua própria justiça, não se dão conta de sua indigência, mas também os desprezadores que, despreocupados com a ira de Deus, não buscam remédio para seu mal. Porque esses não se afadigam, nem estão sobrecarregados, nem são quebrantados de coração, nem encarcerados, nem cativos. De fato, há muita diferença que ensines que a remissão dos pecados é merecida por justa e plena contrição na qual o pecador jamais pode engendrar, ou que o instruas a ter fome e sentir sede da misericórdia de Deus, para que, mediante o reconhecimento de sua miséria, sua inquietação de espírito, sua lassitude, seu cativeiro, lhe mostres onde se deve buscar refrigério, descanso, liberdade, enfim, o ensines a dar glória a Deus em sua humildade.

João Calvino