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sábado, 1 de setembro de 2018

A REJEIÇÃO DELIBERADA DA VERDADE DO EVANGELHO É APOSTASIA REAL NÃO SUSCETÍVEL À RENOVAÇÃO DO ARREPENDIMENTO QUE REDIME

 defecção universal mercê da qual os réprobos abdicam da salvação. Se prestares bem atenção, o compreenderás. Daí, não é de admirar-se que sintam a Deus implacável os que João afirma, em sua primeira Epístola canônica, não fazerem parte do número dos eleitos dos quais se privaram [1Jo 2.19]. Ora, na verdade ele está dirigindo esse arrazoado contra aqueles que imaginavam poder reverter à religião cristã, uma vez que haviam decaído dela, aos quais, lembrando desta falsa e perniciosa opinião, diz o que é mui verdadeiro: que não têm retorno à comunhão de Cristo aqueles que, cientes e deliberadamente, a tenham rejeitado. Rejeitam-na, porém, não aqueles que simplesmente transgridem a Palavra do Senhor em virtude do dissoluto desregramento da vida, mas aqueles que publicamente lhe repudiam todo o ensino. Portanto, o paralogismo está nos termos decair e pecar, uma vez que os novacianos assim interpretam decair: se alguém, ensinado pela lei do Senhor que não se deve furtar, nem fornicar, não se abstenha de furto ou fornicação. Mas, ao contrário, afirmo que aqui se subentende tácita antítese, na qual devem ser trazidas de novo à baila todas as coisas contrárias àquelas que já foram ditas previamente; de sorte que aqui não se exprime alguma falta particular, mas o total afastamento de Deus e, por assim dizer, a apostasia do homem todo. Portanto, quando menciona aqueles que decaíram depois que foram uma vez iluminados; provaram o gosto do dom celestial; fizeram-se participantes do Espírito Santo; provaram também a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro [Hb 6.4, 5], deve-se entender aqueles que, de deliberada impiedade, sufocaram a luz do Espírito; rejeitaramo sabor do dom celestial; alienaram-se da santificação do Espírito; calcaram aos pés a Palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro. E, para que mais expressasse essa definida determinação de impiedade, acrescentou depois, expressamente, em outro lugar [Hb 10.26], o advérbio deliberadamente. Ora, quando nessa passagem diz que nenhum sacrifício é deixado àqueles que porventura pecam deliberadamente depois de haver recebido o conhecimento da verdade, não está negando que Cristo seja o perpétuo sacrifício para expiar as iniqüidades dos santos, o que quase toda a Epístola proclama eloqüentemente quando se põe a explicar o sacerdócio de Cristo, porém, diz que não resta nenhum outro quando se rejeita a este. Negada, porém, expressamente a verdade do evangelho, também está rejeitado esse sacrifício.

João Calvino